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A Propria Escuridao

Eu decidi falar sobre um segredo. Ouça com atenção.

Então, quando eu era pequena, eu morava em uma antiga casa vitoriana, com a minha mãe, pai e irmão mais novo. Sabíamos que a casa era velha, os antigos proprietários nos deram uma foto antiga, em preto e branco, mostrando a casa em que moravam.  Era uma casa confortável, com sala de estar, sala de jantar, uma cozinha, um banheiro e três quartos, embora nenhum dos quartos fosse excepcionalmente grande e tenham sido construídos muito juntos. Moramos lá seis anos, tempo suficiente para notarmos algumas coisas estranhas.

Primeiro de tudo, o quarto que foi escolhido para ser meu, era um desastre. A parede estava cheia de buracos, e o papel de parede estava em um estado terrível, com mofo nos cantos e ao redor dos buracos. Os buracos se transformavam em malignas sombras negras da noite, e eu sentia como se estivesse sendo vigiada constantemente. Então, é claro, os papeis de parede foram trocados e a parede foi pintada de rosa, que era uma cor muito feliz apesar de tudo, e contrariou a força que me mantinha acordada. Foi uma pena o tapete verde ter continuado no quarto, eu não me sentia segura em deixar,  à noite, meu braço ou pé para fora da cama.

Meus pais acreditam que não se deve decorar o quarto de uma criança até ela saber como quer a decoração. Então, meu irmão mais novo foi colocado num quarto simples, que tinha paredes brancas lisas e caixas de papelão empilhadas até o teto. Ele chorou muito, eu acho que nenhum de nós se sentia seguro naquela casa. Lembro-me sempre de fazer xixi na cama, pois tinha muito medo ir ao banheiro, que ficava lá embaixo, no meio da escuridão.

Muitas coisas estranhas aconteceram naquela casa, às vezes a TV mudava do canal que estávamos assistindo, para algum canal inexistente estranho, que ninguém tinha visto antes. E o chão da cozinha (que era daqueles pisos que faz parecer que ele estava coberto de telhas soltas e borbulhantes) de repente se movia, como se alguém estivesse andando do outro lado da pista. Eu acho que o pior cômodo na casa era o banheiro. O banheiro, que foi cercado por uma parede de madeira, começou a fazer barulhos batendo aleatoriamente, como se algo estivesse tentando sair. A pequena janela não podia ser fechada, como se alguém estivesse puxando para o lado oposto quando você tentava trancá-la. O aspirador que tínhamos era aterrorizante. Mas, para ser honesto, o encontramos no armário, e a primeira vez que levamos para a nossa próxima casa, ele derreteu no armário, sem nenhuma explicação.

Mas, de longe, a parte mais assustadora do banheiro, era o espelho. Você não deve olhar no espelho, não importa o que, há outros espelhos espalhados pela casa, e nós usamos esses. Por um tempo, nenhum de nós sabia o porquê, só senti a necessidade de olhar para o outro lado quando passamos, ele tinha uma aura fatal, e que faz você querer evitá-lo a todo custo.

Eu olhei para o espelho, eu não me arrependo, mas você pode. Eu tinha uns oito anos, e ignorante, não tinha medo de nada, eu tinha decidido provar que não havia o que temer no espelho. Eu fiz meu caminho até o banheiro e subi os degraus com os olhos fechados. Cautelosamente eu os abri.

O espelho parecia normal. Estava um pouco empoeirado, mas eu ainda podia ver meu reflexo, e a aura de medo se foi, tudo parecia normal. Bem, estava até o meu reflexo começar a se distorcer.

O espelho começou a embaçar, e eu tropecei para trás. Um rosto pálido branco saiu do espelho, tinha buracos negros no lugar dos olhos, e um chifre afiado longo sobre a sua testa. Cabelo desgrenhado caindo sobre a testa e as laterais do seu rosto, ele não tinha sobrancelhas, e seu olhar era inexpressivo. Ele continuou a se mover para fora do espelho em um ritmo lento. Eu percebi que ele realmente tinha um pescoço longo. Seu cabelo continuou crescendo até cobri-lo completamente, parecendo uma pele de cobra.

Ele parou de se mover por alguns instantes, antes de olhar para mim. "Eu sou a própria Escuridão, você me acordou do meu sono, e para isso, você tem que completar a tarefa correta"

Deixe-me dizer-lhe o que deve fazer. A Própria Escuridão vai te dar três opções; limpar o espelho, correr, ou enterrar a caixa. Se você escolher limpar o espelho, deve desaparecer, você vai limpar o espelho, só para que a Própria Escuridão apareça à meia-noite, e puxe seus olhos para fora com o chifre que ele tem na cabeça. A Própria Escuridão vai colocá-lo em um estado de transe, incapaz de se mover até que desapareça. Você não vai escapar, não importa onde você esteja. Se você correr, a Própria Escuridão irá segui-lo, movendo-se de sombra em sombra, até aparecer na sua frente e assustar-lhe com o barulho. Mais uma vez, não há escapatória.

Se você optar por enterrar a caixa, ele irá dizer-lhe para abrir o painel de madeira no banheiro. Lá você vai encontrar uma caixa, que você está proibido de abrir, se você perguntar para a Própria Escuridão o que está na caixa, ele vai responder: "Meus filhos." Você deve ir para o fim do quintal, cavar um buraco de terra entre as duas árvores, e enterrá-lo lá. Quando você voltar para o espelho, a Própria Escuridão terá desaparecido, juntamente com o seu sentimento de medo. Se você nunca acabar nessa situação, lembre-se que eu disse a você. E também, não faça mais de três perguntas, para os três primeiros, a Própria Escuridão vai responder com calma, quase feliz, mas o quarto, ele vai grunhir a resposta. Eu não fiz nenhuma pergunta depois disso, eu tive medo que ele ficasse nervoso e me matasse ali mesmo.

Boa sorte.



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